A Música da Vida

Sons e silêncios. É assim de que as vidas são feitas. Se eu não produzi som de choro ao nascer certamente aqueles que me acompanharam naquele momento se preocuparam. 


A gargalhada, o grito perante o medo, a boca em associação de músculos, nervos e ossos dizendo papai, mamãe. Sempre assim: um som, uma ação, uma emoção. 

Ao início de minha juventude descobri que o som é uma onda mecânica que necessita de um meio para se propagar. Enquadrando-se nesse perfil físico a música tem ainda a capacidade de expressar e promover sentimentos. Será o canto dos pássaros somente ferramenta de cortejo utilizada pelo macho? Ou também alegria a quem o ouvir?  Será uma boa música tocada simplesmente para exibição do talento de alguém? Ou também tem a capacidade de causar emoção ao ponto de realizar mudanças?

A natureza, cheia de vida e diferentes freqüências, é capaz de por si só produzir música em belas melodias. E para perceber isso não é preciso irmos para uma Savana ou Mata amazônica. Tudo o que precisamos é reservar dez minutos do dia em um local distante das preocupações que nos são oferecidas em abundância, deixando-nos indispostos a escutar a voz do silêncio.

Quantas coisas crescem em silêncio e de forma vagarosa! Será mero capricho da natureza ou condição necessária ao desenvolvimento? Para termos um exemplo do que falo uma semente pode servir de modelo. Ela germina silenciosamente com uma força capaz de romper uma superfície com dureza maior que a sua e retirar de sobre si quilos e mais quilos de terra. Será mero prosseguir com a seleção natural dos seres mais fortes, teoria proposta por Charles Darwin? Ou ensinamento a quem aguça a percepção?

Realmente em algumas horas é necessário que o silêncio aconteça para percebermos como as nossas vidas são cheias de desafios e encantos se temos a disposição de ouvir outras músicas vividas por outros indivíduos. E nem mesmo no silêncio a música da vida é interrompida. Ela se torna mais rica quando na presença de pausas. E quando já não mais pode existir o silêncio irrompem freqüências e suas vibrações de forma a completar a melodia. E mesmo em um último segundo de música, em um último momento de produção de energia promotora da vida em uma respiração celular, ainda assim não é decretado o fim da música da vida. Ela estará em continua reprodução por aqueles que a ouviram.

Não temer expressar nossos sentimentos, perceber a vida, a beleza de cada som e de cada evento da natureza, silenciar quando necessário e oportuno. Simples ações que podem fazer a vida ecoar, crescer, ser melhor ouvida, experimentada.




José Gonzaga Júnior
Biólogo e Músico
Colunista Tv Badalo Ceara

Um comentário:

Anônimo disse...

Muito interessante o texto Júnior. Estudo música em sua essência e sei o quanto ela faz bem tanto para a alma quanto para o espírito. A música está presente desde quando ainda estamos no ventre de nossa mãe e quando saímos dele a música se apresenta ainda mais frequante em nosso dia a dia nos fazendo sorrir, chorar e nos envolvendo de uma forma muito peculiar, nos proporcionando momentos de prazer, tranquilidade, e emoção. Quando realmente cantamos mostramos nosso coração em sua totalidade, ou seja, colocamos para fora aquilo que o coração está fazendo transbordar. Mas para isso a música tem que ser música mesmo. Parabéns pelo texto.

Cleide Araújo

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