O Sudão do Sul se tornou neste sábado, após a proclamação de sua independência, o primeiro país que alcança este feito no século XXI e um dos últimos vestígios do processo de descolonização da África em décadas.
O novo país, composto por dez pequenos estados, enfrenta um futuro incerto e repleto de desafios, mas seu governo conta com a esperança e os recursos naturais como armas fundamentais para conseguir se incorporar plenamente à comunidade internacional.
A história dos sudaneses do sul nos últimos dois séculos esteve ligada à de seus vizinhos do grande Sudão, o maior país da África até hoje, e as diferentes invasões coloniais sofridas no século XIX por turcos, egípcios e britânicos.
Todos buscavam nas férteis terras banhadas pelo Nilo escravos entre as tribos da região e matérias-primas como ouro, ébano e outras madeiras nobres.
Segundo os dados divulgados pelo governo do Sudão do Sul, durante esses anos milhões de cidadãos dessas áreas foram levados para países árabes vizinhos e tratados como escravos.
O moderno Sudão, como era antes da secessão do sul, emergiu durante o protetorado britânico-egípcio (1898-1955), que estabeleceu regiões administrativas independentes no norte e no sul do país.
Mas enquanto as potências invasoras incentivavam o desenvolvimento socioeconômico no norte, seus vizinhos do sul foram entregues à quase exclusiva responsabilidade das missões cristãs e transformados no que se denominou um "distrito fechado", com regras que limitavam a atividade e o deslocamento de seus cidadãos.
Para as autoridades do novo país, esta política não fez mais do que fomentar os desequilíbrios territoriais e as desigualdades entre as regiões e estimular entre os sudaneses do sul o sentimento de ser um povo colonizado pelo norte.
O Sudão obteve sua independência em 1956, o que em vez de levar estabilidade à zona, desembocou em um confronto entre o norte, de maioria muçulmana, e o sul, animista e cristão, com várias guerras civis que durante 37 anos devastaram o país.
Segundo dados de organizações internacionais, os conflitos acabaram com a vida de 2,5 milhões de pessoas e outras 5 milhões se viram obrigados a se refugiar em outros países.
A guerra acabou com estradas, pontes e serviços básicos e a nova nação que terá que construir um país inteiro, basicamente agrário, a partir do nada.
O governo de Cartum e o Movimento Popular de Libertação do Sudão (MPLS), antiga guerrilha que hoje governa o Sudão do Sul, assinaram em 2005 um acordo de paz que culminou em janeiro passado em um plebiscito de autodeterminação no sul.
No total, 98% dos sudaneses do sul apoiaram na consulta a opção pela soberania, reconhecida pela comunidade internacional e que levou à proclamação oficial da independência do país.
Mas a alegria sentida pelos cidadãos neste fim de semana pela proclamação da independência, com desfiles militares, discursos e atos culturais, especialmente em Juba, a nova capital, contrasta com as sombras que se colocam sobre seu futuro.
Para o presidente do país, Salva Kiir Mayardit, o dia de hoje é "sagrado", o início da história de um país, mas ainda precisam ser resolvidos vários conflitos em sua fronteira norte com o Sudão.
Ali há em disputa as áreas de Abyei e Kordofan do Sul, ricas em recursos petrolíferos e que, por enquanto, estão sob mandato das Nações Unidas.
O futuro da região, na qual ainda são registrados enfrentamentos entre o Exército do Sudão e guerrilhas partidárias do sul, é essencial para culminar o processo político que se inicia hoje.
Aos problemas fronteiriços é preciso acrescentar os colocados pelos refugiados no exterior pelos sucessivos conflitos, que chegam a milhões e que tentarão buscar estabilidade e prosperidade em seu novo país.
Algumas ONGs alertam para novos problemas que se somarão aos já existentes, como a delimitação das fronteiras e a elaboração da Constituição, assim como a gestão dos recursos naturais.
Além disso, permanecem sem solução assuntos tão importantes como a repartição da dívida e dos recursos oriundos do petróleo, a abertura de serviços básicos de saúde, de educação e o tratamento da desnutrição, em um futuro que agora pertence aos sudaneses do sul.
Fonte:EFE
Nenhum comentário:
Postar um comentário