36% dos médicos deixam de atender nos postos de saúde

Falta médico, estrutura, remédio e exames especializados. Em época de epidemia de dengue, os postos de saúde da Capital ficam ainda mais lotados. A demora no atendimento deixa os usuários irritados.

Nos 92 postos de saúde de Fortaleza deveriam haver, pelo menos, 754 médicos, entre os que atuam no Programa da Saúde da Família e os que atuam no atendimento das unidades. No entanto, 273 médicos (36%) aprovados no concurso de 2006 e convocados até 2008, deixaram os cargos públicos nos últimos anos. Com isso, o desfalque ao quadro de profissionais do sistema causa uma das principais queixas da população: a falta de médicos para realizarem atendimentos nas unidades. Em época de epidemia de dengue, a situação se agrava e deixa as unidades ainda mais lotadas. 

“Para ter médico aqui, só se cair morto”, comentou Valdenise Prudente, moradora do Sítio São João, na fila do posto que atende à área. Essa queixa divide o primeiro lugar da lista de desrespeitos elencados pela população com a dificuldade em realizar consultas e exames especializados. Alzenira Barbosa comentou, em tom de revolta, que passou cinco anos na fila para um neurologista. “Aqui é chegar e mandarem voltar. Acabei pagando particular”, lamentou.

Falta de médicos e de medicamentos, dificuldade em conseguir exames e consultas especializadas, esperas longas e sensação de descaso. Essa realidade é contada por muitos daqueles que dependem do atendimento realizado nos postos de saúde da Capital.

A coordenadora da atenção básica da SMS, Lídia Costa, reconheceu que a fila de espera para especialidades é um dos gargalos da atenção básica, mas indicou que a falha é do sistema como um todo. “Eles podem criar 20 hospitais, se não consertar a atenção básica, vai encher tudo”, opinou a médica e professora do curso de Medicina da Unifor, Paola Colares. “Hoje, a atenção primária é mantida com muito menos do que necessita. Ela precisa de mais dinheiro. Eu acho que falta cumprir a lei na atenção básica, não é cumprida em nada”, complementou.

Para Florentino Cardoso, superintendente do Complexo Hospitalar da UFC e presidente da Associação Médica Brasileira (AMB), a cobertura da atenção básica deveria ser maior, assim como a qualificação das equipes. “Se estiver bem estruturada, somente uma minoria de 20 a 15% iria precisar do atendimento secundário e terciário”.

Para a coordenadora da atenção básica da SMS, Lídia Costa, essa afirmativa de que o setor deveria resolver 80% dos problemas só poderia acontecer se a atenção básica tivesse estrutura, capilaridade e resolutividade para atender a demanda. Segundo ela, a atenção básica vem apresentando avanços, mas não é a que recebe mais recursos e os postos de saúde não existem na proporção que deveriam.

Para resolver, de forma paliativa, a questão dos médicos, uma seleção pública foi realizada este mês para o preenchimento dos cargos até a realização de um concurso, sem previsão. Das 217 vagas, 65 são para a atenção básica. Além dos médicos, outros profissionais da saúde também reforçarão a atenção básica, como enfermeiros, psicólogos, nutricionistas, farmacêuticos. O resultado final e homologação estão previstos para junho, até lá, a ausência continuará sendo sentida por quem busca atendimento.

ENTENDA A NOTÍCIA
O POVO visitou nove postos de saúde e ouviu dos usuários os detalhes das dificuldades em busca de atendimento. Especialistas apontam que falta priorização na atenção básica e em todo o sistema de saúde.

Serviço
Ouvidoria da Secretaria Municipal de Saúde (SMS)
Rua do Rosário, 283, 3º andar, sala 306 – Centro.
Telefone: 3452 6619
Atendimento de segunda à sexta-feira, das 8h às 12 horas e de 13h às 17 horas.

Atendimento
Para especialistas e funcionários da atenção básica, o posto ideal seria aquele em que:
A população teria acesso garantido e atendimento qualificado.
Envolveria a comunidade e possibilitaria o empoderamento dela sobre a sua saúde. 
Atenderia a um número adequado de pessoas.
A equipe possuiria uma vinculação com a comunidade.
A população seria bem acolhida.
Possuiria uma estrutura adequada para os serviços prestados.
Seria um local em que as pessoas iriam para vigiar a saúde e não para resolver problemas pontuais.
Os profissionais e a gestão entenderiam as demandas da população.

Saiba mais
Postos na Capital
O que é atenção básica
- Conjunto de ações de saúde, no âmbito individual e coletivo, que abrangem a promoção e a proteção da saúde e de agravamentos, o diagnóstico, o tratamento, a reabilitação e a manutenção da saúde. 

- É o contato preferencial dos usuários com os sistemas de saúde.

Estratégia da saúde da família
- É necessária a presença de equipes multiprofissionais, responsáveis por, no máximo, 4 mil habitantes. A média recomendada é 3 mil. 

-Tais equipes deveriam ser compostas por médico, enfermeiro, auxiliar ou técnico de enfermagem e agentes comunitários de saúde.

- A recomendação é de que, em grandes centros urbanos, as Unidades Básicas de Saúde com o PSF atendam 12 mil habitantes do território pelo qual tem responsabilidade sanitária. Para as Unidades sem PSF, esse número vai para 30 mil.
Fonte: Política Nacional de Atenção Básica.

Números da Capital
92 postos de saúde de Fortaleza. 38 abertos até às 21 horas.
481 médicos, sendo 252 nas equipes do Programa da Saúde da Família e 228 nos postos, em regime de trabalho de 20 horas.
357 equipes do PSF, sendo 100 compostas apenas por enfermeiros e agentes de saúde. (Dados de 2010) 2500 agentes de saúde.
Déficit: seriam necessários mais 50 postos para atender a indicação da Política Nacional de Atenção Básica.
Por:Samaisa dos Anjos
Fonte:OPovo

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